sábado, 21 de maio de 2011

OS CONFLITOS DE BETA ISRAEL COM OS CRISTÃOS ETÍOPES – PERSEGUIÇÃO MILENAR AOS HEBREUS NA ETIÓPIA.



Por Walter Passos, Historiador,Panafricanista,
Afrocentrista e Teólogo.
Pseudônimo: Kefing Foluke.
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn:kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos.

É deveras complicado para muitas pessoas entender as interpretações histórico-religiosas sobre a Etiópia. O desconhecimento das populações do Vale do Nilo proporciona uma historiografia e analises étnico-sociais duvidosas, obtusas e confusas difundidas por escritores e pensadores eurocentristas, acadêmicos pretos, estudiosos religiosos e grupos afro-americanos.

Durante toda história etíope, advieram diferentes interesses econômicos que conseqüentemente geraram conflitos pelo poder político, tais conflitos alteraram a tradição oral e as concepções do sagrado. São distintas cosmovisões anacrônicas em um mesmo território e sempre estiveram em conflito, apesar de no primeiro olhar parecerem estar entrelaçadas. Sendo assim, é muito importante a compreensão desses ethos pelos afro-diaspóricos, principalmente os grupos que se utilizam daquela ancestralidade na fundamentação de seus posicionamentos filosóficos e religiosos.

A Etiópia, décimo maior país da África em extensão territorial, abrange cerca de 1.138.512 km² e principal constituinte da região conhecida como Chifre da África. É limitada a norte e a nordeste pela Eritréia, a leste por Djibuti e Somália, a sul pelo Quênia e a oeste e a sudoeste pelo Sudão.
A Etiópia é conhecida por suas medalhas de ouro olímpicas, igrejas esculpidas em rochas, o lugar onde se originou o grão de café e por ser um dos locais descritos pela ciência como origem dos primeiros seres humanos.

Há cerca de 80 diferentes grupos étnicos na Etiópia, os dois maiores são: Oromo e Amhara, ambos falam línguas afro-asiáticas. O grupo Oromo (Galla) é aproximadamente 40% da população e concentra-se principalmente na parte sul etíope. Os grupos Amhara e Tigrean correspondem a 32% da população e tradicionalmente dominam a política etíope. O grupo Sidamo vive nos sopés ao sul e nas regiões de savana correspondendo a 9%, enquanto o Shankella compõe cerca de 6% da população e residem na fronteira ocidental. O somali (6%) e Afar (4%) habitam as regiões áridas do leste e sudeste. Os povos do Nilo vivem no oeste e sudoeste ao longo da fronteira do Sudão. O Gurage representam 2% da população, e 1% restante é composto de outros grupos. O Beta Israel (chamados pejorativamente de Falashas e conhecidos como "judeus negros") vive nas montanhas de Simen e atualmente são cerca de 4.500 pessoas, isto porque a maioria dos 140 mil migrou para Israel. Outros grupos minoritários como os Beja vivem na região norte, o Agau no planalto central, e o povo Sidamo na encosta sul e regiões da savana são os remanescentes dos primeiros grupos que habitaram a Etiópia.


FACES OF ETHIOPIA



Entre os diversos grupos que formaram a história etíope, dois nos dão subsídios ao que desejamos pontuar: Beta Israel e os membros da Igreja Ortodoxa Etíope (Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo, que se compõe pelas diversas etnias). E, na Afro – América, os seguidores da filosofia Rastafari que tem como referencial e utopia a Etiópia, pátria espiritual do movimento religioso Rastafari.

Logo, ressalto que não há pretensão em um artigo de um blogger escrever uma tese. O principal objetivo deste texto é iniciar uma discussão para entendermos melhor estas diferenças no território etíope, as causas e conseqüências do exílio dos hebreus de Beta Israel, a formação do cristianismo ortodoxo e a referencia da história etíope por grupos afro-americanos.

BETA ISRAEL

Beta Israel (Casa de Israel), erroneamente chamados de Falashas (estrangeiros), é formada por hebreus que saíram de Israel a milhares de anos atrás e depois de varias migrações se instalaram nas montanhas de Gondar na Etiópia, tendo como referência a terra dos seus ancestrais (Israel), sabedores que não pertencem originariamente ao território etíope.


IGREJA CRISTÃ ETIOPE

A Igreja Cristã Ortodoxa Etíope surge no século IV com a conversão do rei Ezana de Axum, foi um dos mais influentes e poderosos impérios mundiais e um dos primeiros a instituir o cristianismo como religião oficial de Estado. Saiba mais lendo o artigo: AXUM - AS IGREJAS ESCULPIDAS EM ROCHAS NA ETIÓPIA


Ethiopian Orthodox Church Song




RASTAFARI

A filosofia rastafari é pan-africanista, oriunda da interpretação de uma revelação do grande líder Jamaicano Marcus Garvey, tornando-se conhecida internacionalmente a partir da década de 60 do século passado, tendo como um dos principais objetivos a repatriação dos africanos nas Américas. Como disse, a Etiópia é a pátria espiritual do movimento religioso Rastafari.

Como vimos, são períodos linearmente diferentes que em certo momento na história se encontram: o Mosaismo de Beta Israel e o Cristianismo de Ezana criando conflitos de poder, perseguições e no século XX exílio para o primeiro grupo. Por outro lado, o Movimento Rastafari surge após a escravidão nas Américas, intimamente ligado à história da Igreja Cristã Etíope.

Os rastafaris que tem como um dos seus princípios a genealogia salomônica descrita no livro Kebra Nagast, assim legitimam as dinastias etíopes como descendentes diretos de Menelik, filho do rei Salomão e da rainha Makeda de Sabá. Devemos atentar que o Kebra Nagast apresenta Salomão como descendente da tribo de Judá, por isso os rastafaris elegeram o imperador etíope Haile Sellasie, como o Leão de Judá, o Mashiach (Messias). Título e função não reconhecidos pelo próprio monarca, um fervoroso seguidor da Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo.

Peter Tosh "Rastafari Is"



A Etiópia tem laços históricos com as três mais importantes religiões do mundo que se dizem abraâmicas. Foi um dos primeiros países cristãos no mundo, tendo adotado oficialmente o cristianismo como religião do Estado no século IV d.C. Mantêm algumas observâncias do Tora, como: a guarda do sábado, a circuncisão masculina após o nascimento e regras alimentares,entre elas, a proibição da ingestão de carne de porco. Além disso, as mulheres da Igreja Ortodoxa Etíope são proibidas de entrar nos locais de adoração quando menstruadas, cobrem a cabeça com um lenço e sentam-se separadas nas igrejas, os homens sempre à esquerda e as mulheres à direita (quando de frente para o altar).


Um importante diferencial da Igreja Etíope e de outras igrejas cristãs é a tradição de que Menelik levou a Arca da Aliança para a Etiópia. Sendo cristã compactuam com a concepção européia de um messias branco (Jesus Cristo) e não compactuam com a filosofia Rastafári sobre Haille Selassie como sendo o Messias. Na fé dos Rastas, Haile Selassie é reverenciado como Jah Ras Tafari I, o Messias, o “Cristo Negro” que ascendeu ao Trono do Rei Davi em Adis Abeba, capital da Etiópia.

Em certos escritos e vídeos alguns grupos rastafaris colocam Beta Israel como referência, causando uma enorme confusão.

Deixando essas duas linhas de interpretação da Igreja ortodoxa Etíope e dos Rastafaris, iremos nos centrar no conflito milenar entre a maioria etíope cristã e a minoria hebréia de Beta Israel. É muito importante pontuar que Beta Israel não aceita o Kebra Nagast, concomitantemente, não veio com Menelik conforme os escritos e tradição etíope. Beta Israel, segundo a sua própria oralidade, é da tribo de Dan (danitas) não são da tribo de Judá (judeus). Não aceitam a Trindade, ao contrário, são monoteístas, e tem como base de fé o Torá e o Tanach. Ignoram a tradição etíope e a filosofia rastafari. É importante ressaltar, que Beta - Israel e os hebreu-israelitas nas Américas não se utilizam do termo JAH, porque não existe no Torá e no Tanach. O nome do Eterno é YHWH e em muitos trechos do Tanach é citado como YAH.

Não confunda a tribo de Judá e a dinastia salomônica com Beta Israel que é da tribo de Dan. Não esqueçam Jacó (Israel) foi pai de 12 filhos, e originou as 12 tribos de Israel, sendo a tribo de José, dividida em duas: Mannasés e Efraim. Beta Israel e a dinastia salomônica foram para a Etiópia em momentos distintos e por razões diferentes, apesar de serem da descendência de Israel. Beta Israel não aceita como verdadeiro o cristianismo etíope.

Ressaltando mais uma vez, a história dos hebreus (Beta Israel) foi de extrema perseguição desde que o cristianismo chega à Etiópia, com as transformações da tradição oral e as novas concepções de poder criadas pela suposta dinastia salomônica. Neste sentido, no próximo artigo discorremos sobre a negação do Kebra Nagast por Beta Israel e as guerras de sobrevivência dentro da Etiópia dos hebreus da tribo de Dan (Beta Israel), enfrentando guerras violentas contra o império cristão axumita, perseguição do fascismo de Mussolini e vitimas da ditadura etíope, da guerra civil e da fome, até que fugiram retirados por tropas israelitas (askenazis), através da Operação Moisés (1984) e da Operação Salomão (1991).



Shalom!!!

5 comentários:

NP disse...

Shalom Irmão.
Irmão era uma Duvida que eu tinha se os beta Israel aceitava o Kebra nagast.
muito interressante este artigo eu nao sabia que na etiopia vivia duas tribos de israel nao sabia que os beat israel descendiam de dã. pensavam que ambos eram todos desdendentes de Juda. e com tempo cada uma foi seguindo um caminho. muito bom o artigo parabens irmao. que YAH continue lhe dando mais intendimento.

selasie disse...

Escola CnnC otimo artigo pois e muito complicado pra quem não entende a ideologia Rasta e o cristianismo essa matéria e muito delicada pois para os Rasta Haile Selassie Seria o Messia ,qual o mesmo negou ate a morte ,fico com sabor de mais informação Shalom

Abba Salama disse...

Shalom, irmãos africanos! Excelente artigo do CNNCBA! Os Hebreus mais antigos do mundo como Beta Israel e Cochin ou Cochi não são messiânicos pois conhecem apenas o Torá. Este Jesus Cristo europeu (Cópia da história de Osiris e Hórus) é uma invenção do Conselho de Niceia no a no 325) "nascido" por decreto de Constantino domingos.
Adorar a Jesus branco é adorar aos europeus. Daí o esforço do Vaticano em embranquecer a imagem do suposto messias. O messianismo existiu em Israel, terra dos nossos antepassados BIOLÓGICOS num contexto de dominação europeia ( branca, romana). Os nossos irmãos hebreus como YESHA BEN MANAKON, YESHUA BEN COKBA,YESHUA BEN JUDA, YESHUA BEN YOSEF e muitos outros foram crucificados mortos.
O messias é um mito cujo objetivo, desde sua origem no antigo Kemet, num reino espiritual chamado de AMENTA,é satisfazer o sentimento NUMINOSO, aproximando o homem com DEUS. Leiam Gerald Massey ( Ancient Egipt The Light of the World), Carl Gustav Jung, A Teoria dos Arquétipos, O Poder do Mito de Joseph Casmpbell.
SAHLOM, IRMÃOS HEBREUS ORIGINAIS = HOMENS PRETOS. EU SOU AMENHOTEP !

Abba Salama disse...

Shalom, irmãos hebreus ! Excelente artigo deste Profeta hebreu Valter Passos. A pergunta que tem que ser respondida é a seguinte: Como pode o homem origianl (sapiens-sapiens) negroide africano com 3.2000.000 anos de evolução, nós legítimos hebreus por exemplo; acreditar que um homem de Neandertal caucasiano-europoide com apenas 200.000 anos de existência, entrando na faixa de extinção a 50.000 anos atrás, deixando apenas traços nos brancos do cáucaso (Vide Instituto Marx Plank de Antropologia Evolutiva, 2010) é o "Filho do Homem, O Messias" nosso único e " verdadeiro salvador"? Justamente o devanescente Homem de Neandertal,mutação genética, homem das cavernas? Se duvidar, leiam: ICEMAN INHERITANCE de Michael Bradley. Com introdução do Mestre dos Mestres Jhon Henrik Clark.

Eu,AMENHOTEP, gostaria que me respondessem esta pergunta. Hotep!

Ausar Kofi disse...

Bom texto do irmão Walter esclarece em parte, mas há controvérsias porque parte da Igreja Ortodoxa ve sua Majestade como Messias sim, através do Nascimento (extinção de um período longo de seca na Etiópia)e da Coroação, além de de ser Messias por nos salvar sim do demônio representado pelas forças italianas, o Vaticano que é a cabeça da babilônia revelada na Bíblia em Apocalipse,e Mussolini que também apoiava Hitler.
Concordo c irmão acima Abba Salama que escreveu sobre a invenção que desse Jesus Cristo europeu criado tem influencias da história do Egito e de Paulo que também misturou doutrinas do Órfico do ambiente universitário de Tarsus para formar o cristianismo europeu ,usa o termo pneuma(respirar) ou o que seus tradutores ingleses chamam de espírito,como a maioria das grandes cidades,Tarsus tinha seguidores do Órfico ou de outras religiões misteriosas, que pregavam que o Deus que eles adoravam, tinha morrido por eles, etinha se reerguido da cova para salvá-los das mãos de Hades(inferno) e compartilhar com eles seu dom e ida eterna.As religiões misteriosas preparam os gregos(os pagãos)i para o Paulo dos gregos.(Cesár e Cristo) Tivemos outros YESHUA como o irmão citou e outros KRISTOS em Etiópia,seguindo firme em oração e meditação Sua Majestade se revela a nós e sabemos que és Sacerdote para sempre segundo Ordem de Melquiseque vive, seguindo a linha pensamento antiga que Deus está em entre nós e Sua manisfetação na Terra sobre o Trono de Davi,nos lugares mais altos do mundo na Etiópia, a própria Zion,o Faraó dos faraós,Rei dos reis da terra,Senhor dos senhores,Leão Conquistador da Tribo de Judá,Sua Majestade protetores da Terra agora o rodeiam Negus Negast. Ausar Kofi.

PRETAS POESIAS

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