quinta-feira, 17 de abril de 2008

AFRICANAS AS PRIMEIRAS MATEMÁTICAS – ISHANGO A MENSTRUAÇÃO E A MATEMÁTICA

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista . Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com
Facebook: Walter Passos

A todo o momento as mentiras europocêntricas são desmitificadas com as descobertas das civilizações africanas, e atualmente o véu é rasgado e novas luzes surgem sobre os primeiros saberes do planeta no berço de todas as ciências: África. Nos estudos do livro de Levítico é deveras interessante todo o direito normativo que orienta o povo hebreu, especificamente sobre a concepção de proibições às mulheres referentes à menstruação, encontrado no capítulo 15. O sangue menstrual nas sociedades primitivas foi motivo de diversas especulações e rituais que elevaram às mulheres à condição de detentoras do poder mágico do sangue, da maternidade, da perpetuação do grupo clânico, e a serem divinizadas e formarem as primeiras sociedades matriarcais e matrilineares.

A chegada da menstruação em uma das sociedades mais antigas do planeta, os BaMbuti no Congo, é motivo de festa chamada “Elima” onde todos da comunidade participam, porque é a menstruação como "ser abençoado pela Lua"
A necessidade de pensar numericamente fez com que os primeiros agrupamentos humanos do planeta criassem métodos e instrumentos matemáticos, por muito tempo os eurocêntricos forçaram que a ciência matemática surgissem entre os povos europeus, sendo desmascarados a todo o momento com as construções dos egípcios e dos núbios. Assim mesmo, os estudiosos paravam os seus estudos no nordeste da África, na civilização egípcia, bem anterior a civilização grega que teve como base do seu conhecimento filosófico e cientifico os povos africanos.

Quando as novas descobertas arqueológicas provam a todo o momento que bem antes do Egito, civilizações do Centro e Sul da África detinham conhecimentos avançadíssimos, os quais tem deixados os cientistas caucasianos perplexos, se tornam fruto de ignorância para os historiadores desconhecer civilizações primevas e de grande potencial tecnológico e cientifico. Infelizmente, na academia brasileira, os historiadores, e fora delas, os contestadores do saber acadêmico, como alguns militantes pretos, não conhecem a civilização egípcia e nem a núbia, e baseiam seus ensinamentos em algumas regiões que foram mutiladas pelos seqüestradores europeus, como se assim, possam falar da África. O continente-mãe tem que ser estudado com uma concepção abrangente e seguindo não somente a rota escravagista do Atlântico, mas a rota africana em direção a todos os continentes, nas diásporas voluntárias para o povoamento do planeta.

Os saberes africanos assustam os caucasianos e eles escrevem livros que pairam no ridículo ao afirmarem que foram extraterrestres que construíram ou ensinaram as grandes construções africanas. Incrível, a criatividade e devaneios só para negar os saberes das primeiras civilizações.
As primeiras sociedades africanas seguiam o calendário lunar que foi repassado mundialmente através das diásporas voluntárias no povoamento de todos os continentes. A importância da lua e suas fases ainda são observadas em diversas culturas pelas mulheres no que tange ao ciclo menstrual, quando citei acima o livro de Leviticio no capítulo 15- 19-33.

19 Mas a mulher, quando tiver fluxo, e o seu fluxo de sangue estiver na sua carne, estará sete dias na sua separação, e qualquer que a tocar, será imundo até à tarde.
20 E tudo aquilo sobre o que ela se deitar durante a sua separação, será imundo; e tudo sobre o que se assentar, será imundo.
21 E qualquer que tocar na sua cama, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
22 E qualquer que tocar alguma coisa, sobre o que ela se tiver assentado, lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
23 Se também tocar alguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre aquilo em que ela se assentou, será imundo até à tarde.
24 E se, com efeito, qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundícia estiver sobre ele, imundo será por sete dias; também toda a cama, sobre que se deitar, será imunda.
25 Também a mulher, quando tiver o fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua separação, ou quando tiver fluxo de sangue por mais tempo do que a sua separação, todos os dias do fluxo da sua imundícia será imunda, como nos dias da sua separação.
26 Toda a cama, sobre que se deitar todos os dias do seu fluxo, ser-lhe-á como a cama da sua separação; e toda a coisa, sobre que se assentar, será imunda, conforme a imundícia da sua separação.
27 E qualquer que a tocar será imundo; portanto lavará as suas vestes, e se banhará com água, e será imundo até à tarde.
28 Porém quando for limpa do seu fluxo, então se contarão sete dias, e depois será limpa.
29 E ao oitavo dia tomará duas rolas, ou dois pombinhos, e os trará ao sacerdote, à porta da tenda da congregação.
30 Então o sacerdote oferecerá um para expiação do pecado, e o outro para holocausto; e o sacerdote fará por ela expiação do fluxo da sua imundícia perante o SENHOR.
31 Assim separareis os filhos de Israel das suas imundícias, para que não morram nas suas imundícias, contaminando o meu tabernáculo, que está no meio deles.
32 Esta é a lei daquele que tem o fluxo, e daquele de quem sai o sêmem da cópula, e que fica por eles imundo;
33 Como também da mulher enferma na sua separação, e daquele que padece do seu fluxo, seja homem ou mulher, e do homem que se deita com mulher imunda.

Podemos observar uma seqüência de abstinência sexual e de práticas rituais dirigidas por homens, os sacerdotes, em ofertas de holocausto em sentido purificatório, mostrando uma mudança do que era considerado puro se transformando em imundo na sociedade patriarcal dos hebreus.

Ao longo dos milênios, as mulheres têm desaprendido a arte de menstruar, de fluir com a vida. Nas sociedades tribais, a menarca, o início do fluir do sangue, era celebrada com um rito de passagem, auxiliando a menina a realizar sua entrada para o reino do mana: o poder sagrado transmitido pelo sangue e que tanto podia dar como tirar a vida. Além de apaziguar o poder destruidor, o rito tinha como função auxiliar a menina a entender sua condição física e sua relação com a função procriadora da natureza. Ainda uma criança em espírito e condição social, a partir de suas regras, a jovem deve assumir o comando de sua vida. Sem ritos de passagem, o que temos para oferecer às nossas meninas, que as ajude a transformar e assumir sua nova identidade?

http://www.vadiando.com/textos/archives/000744.html

Ouvia sempre da minha falecida mãe e das “antigas” que não se devia ir ao candomblé mulher menstruada, uma espécie de proibição que na época, ainda criança não me interessava muito, mas sei que há proibições (quizilas) no cozimento de alimentações ritualísticas e oferendas proibitivas a participação de mulheres menstruadas.

A necessidade de numerar e entender a menstruação fez com que fosse criado um instrumento no centro da África entre 25.000 a 20.000 mil anos, denominado de Ishango.



The Ishango Bone



Descoberto no ano de 1950, pelo geólogo belga Jean de Heinzelin e uma equipe de pesquisadores ao realizar escavações no Congo, próximo às margens do lago Rutanzige (antigo lago Alberto), quando procuravam uma grande civilização pré-histórica nessa região vulcânica,
o geólogo encontrou esse precioso objeto de 10 cm de comprimento, ornado com um cristal de quartzo em uma extremidade e que trazia três séries de entalhe agrupados. O cristal de quartzo que não pode ser separado do instrumento comprova que era usado para a gravação, em culturas que se acreditavam não ter o conhecimento da escrita.
O que chamou a atenção dos estudiosos foram à datação, o ineditismo e o uso matemático do instrumento.
Conforme Dirk huylebrouck: “O BASTÃO COMPORTA uma primeira coluna de entalhes unidas em pequenos grupos: de 3 a 6 entalhes; 4 e 8; 10; 5; e, finalmente, 7 entalhes. Duas outras colunas são constituídas por grupos de 11, 21, 19, 9 e 11, 13,17 e 19 entalhes.
Heinzelin via nesses entalhes um jogo aritmético: uma operação de duplicação dos números aproximada na primeira coluna, seguida do “ritmo” de 10=1, 20=1, 20-1, 10-1 e, na seguinte, os números primos entre 10 e 20. Contestado em 1972 pelo jornalista americano Alexander Marshack que afirmou que o bastão era um calendário lunar, porque a soma de cada uma das duas últimas colunas (11, 21, 19,9e 11, 13, 17,19) o resultado é 60, isto é, dois meses lunares, e a primeira coluna totaliza 48 traços, ou um mês e meio lunar. O que deixou os estudiosos caucasianos perplexos foi que o bastão de Ishango é uma prova inconteste que os africanos já realizavam cálculos matemáticos 15 mil anos antes dos egípcios e 18 mil anos antes do surgimento da matemática na Grécia.


Coluna esquerda



Coluna do centro


Coluna direita

Na antigüidade o ciclo menstrual da mulher seguia as fases da lua com tanta precisão que a gestação era contada pelas luas. Com o passar dos tempos, a mulher foi se distanciando dessa sintonia e perdendo, assim, o contato com seus próprios ritmos e seu corpo, fato que teve como conseqüências vários desequilíbrios hormonais emocionais e psíquicos.
http://mulheresedeusas.blogspot.com/2008/01/lua-vermelha-da-menstruao-na-antigidade.html
Nos estudos da etnomatematica, observa-se que as primeiras comunidades tiveram a necessidade transcedental, criativa, objetivando a sobrevivência e a prosperidade grupal e o Ishango foi um instrumento que as mulheres africanas criaram através da observação da sua sexualidade e o calendário lunar adquirindo o conhecimento matemático para gerir e acompanhar os ciclos menstruais. Assim, o calendário lunar, não teria sido apenas métodos de conservação de tempo, mas também reflexiva da ressonância entre as fases da lua e do sagrado ciclos menstruais das mulheres.
Leia mais: http://paje.fe.usp.br/~etnomat/anais/CO01.html

African Mathematics Ma'at Techniques The Thoth Process


As mulheres africanas e suas descendentes são o fruto da criação original de YAH, detentoras de conhecimentos milenares e de saberes equilibrados, possuindo a nobre missão de resgatar e manter através dos conhecimentos uma sociedade igualitária, onde a opressão do gênero masculino sobre o feminino, seja a cada dia questionado; e através do afrocentrismo e panafricanismo um sonho de perfazermos uma sociedade sem opressores e oprimidas.

Um comentário:

Unknown disse...

Genial ,nossa fico muito feliz de ver a mulher negra onde ela deveria sempre esta como o centro de tudo como nossa mãe Eva , mas o que fico pensando porque muitos Homems negros ainda não valorizam a mulher negra! Mas quando tinvermos nas salas de aula o Afrocentrismo muita coisa vai mudar , outro dia mesmo fiquei sabendo que a Rede Globo reclamou com MEC ,que não queria que os livros de Anta Cheikh Diop chegase nas escolas por que ver os Egipcios como negros seria como falar que os negros e que encinaram os (Helenos)indo Europeu que invadiram creta e encinaram todos seus conhecimentos. fora que toda mitologia grega na verdade era do povo minoico que vivia lá em creta muito antes de qualquer indo Europeu chegase lá com Zeus na cabeça , e que eram do fenotipo melanodermes ou em outras palavras NEGROS ,Ha ! mais cedo ou mais tarde nós todos juntos recuperaremos nossa Historia ,e teremos negros que se orgulharam de ser negro e com a alto estima elevada (que pra mim particulamente e o segredo) ,ai sim estaremos todos juntos !e eu duvido que as coisas vão continuar do jeito que estão valeu !

PRETAS POESIAS

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