domingo, 30 de setembro de 2007

OS PRETOS SEM-TERRAS


Por: Aidan Dudu Labalãbã.
Este é o meu pseudônimo, o qual escolhi por não aceitar os nomes dados pelo escravizador. O meu nome pela língua imposta pelos brancos é Vanessa e sou membro da Igreja Presbiteriana Unida, em Salvador-Bahia e Tesoureira do CNNC/Bahia


O professor de sociologia, do colégio de Ensino Médio que estudo, comentou sobre os sem-terras e mostrou diversas fotos em slides as quais não apareceu nenhuma imagem de pessoas preta, achei estranho porque somos a maioria do povo brasileiro.
Meu pai foi a primeira pessoa que mapeou os quilombos do estado da Bahia, e começou este trabalho antes do meu nascimento, tenho eu agora 18 anos de idade, cresci ouvindo falar sobre as questões agrárias do povo preto e especialmente sobre quilombos e a não participação dos protestantes nessa questão. Até tratores passaram em Igreja da Assembléia de Deus dentro de quilombo,o meu pai escreveu sobre isso, e os protestantes nada disseram, e eu ainda pequena não entendia porque nada disseram e hoje eu sei que igreja formada só de preto não interessa aos poderes das igrejas que tem seus líderes todos brancos fora da nossa realidade.
Não temos imagens constantes de pretos e pretas no Movimento sem-terra, pelo menos os que aparecem na mídia, as nossas imagens são escassas, mas tenho a certeza que somos a maioria dos sem-terras nesse país. Na Bahia não se pode esconder esse fato.
O início do processo de expulsão das terras se deu especificamente após a chegada dos imigrantes brancos da Europa no projeto de branqueamento do país. Na abolição da escravatura, a população preta não estava nos planos agrários, tanto assim, que as minhas bisavós vieram do interior da Bahia. Sabemos que as pessoas migram porque não possuem terras em um país continental que não teve a coragem de fazer a reforma agrária, para beneficiar brancos sem-terras e pretos que nunca tiveram direito a posse dela.
Nas fotos apresentadas na sala de aula eu fiz algumas viagens para tentar imaginar só fotos de brancos. Eu sei que na época da escravidão houveram brancos sem-terras, e alguns fizeram acoitamento para escravos fugidos explorando a sua mão-de-obra, li isso no livro Bahia: Terra de Quilombos, escrito por meu pai quando ele escreveu sobre o Quilombo do Oitizeiro na Bahia.
Sempre ouvi do meu pai que temos de diferenciar os pretos sem-terras e os quilombolas, E AO MESMO TEMPO HÁ PRETOS SEM-TERRAS QUE FORAM QUILOMBOLAS, E HÁ PRETOS QUE ESTÃO SEM -TERRAS E NÃO FORAM PROVENIENTES DE COMUNIDADES DE QUILOMBOS. Eu só sei que sem importar muito as nomeações, o povo preto não tem terras e precisa lutar muito e serem cuidadosos para não perder as que possuem.
Os meios de comunicação não mostram os pretos sem-terras, o que aparece sempre são os pretos nas favelas, nas palafitas, nos meios urbanos, como se não estivéssemos na zona rural. É necessário mostrar a cara do Brasil Preto sem-terra, ao invés da mídia está sempre tentando esconder essa cruel realidade. Divulga-se um Brasil rico e branco, de farturas e com crescente produção agrícola que o nosso povo não tem participação nos seus lucros.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O DIREITO DA FALA: CNNC/BA E CONNEB/BA


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos.
Pseudônimo: Kefing Foluke.

Recebi um e-mail o qual me deixou bastante apreensivo sobre os rumos que toma o CONNEB/Bahia - Congresso de Negras e Negros do Brasil/BA - na questão da religiosidade do Povo Preto, bem diferente da decisão em Belo Horizonte, sendo assim, peço-vos que reflitam em algumas questões sobre a PLENÁRIA ESTADUAL DO CONGRESSO NACIONAL DE NEGRAS E NEGROS DO BRASIL que ocorrerá no dia 29 de setembro de 2007 (sabado), as 09h, no auditório da Faculdade Visconde de Cairu - Barris - Salvador/Ba., e um dos temas será: Religiosidade do Povo Negro.
Primeiramente parabenizo a escolha do nome de Valdina, uma irmã que conheço há 25 anos e tive o prazer em dezenas de vezes de conversar sobre diversos assuntos, e a tenho em alta consideração pela dedicação e militância em prol dos africanos na diáspora e especialmente pela defesa intransigente do povo banto no Brasil e seu verdadeiro reconhecimento, ainda velado pela crescente iorobofolia criada pela academia branca.
No que tange a minha participação a qual soube por e-mail e está para ser aprovada ou não em plenária em uma disputa com a irmã Elenira do Terreiro do Bogum, a qual será realizada hoje (27/09/07) por voto, não precisará ser realizada, eu não participarei e não permito que em nenhum momento o meu nome entre em disputa pelo direito da fala como representante de uma religião protestante. O direito da fala deve ser natural para os representantes pretos protestantes, então não haverá disputa até que sejam repensados os critérios adotados. Não irei à reunião de sábado.
Na história do candomblé da Bahia com a entrada do branco e suas influências acadêmicas a solidariedade entre as nações ficou abalada, denomino: maldade branca de divisão, de falta de respeito entre as diversas tradições africanas. O pouco que sei, acredito que nada sei sobre candomblé, e o pouco que aprendi com o meu pai e minha mãe, com os meus tios e tias, sendo eu descendente direto de sacerdotes e sacerdotisas, foram de respeito entre diversas pessoas no auge da repressão as casas de culto e na troca de experiências, exercícios de solidariedade quilombolas hoje esquecidos.
Entendo que os ensinamentos anti-solidários brancos estejam na prática inconsciente dos nossos atos, e é necessária a depuração desses atos não solidários. Não compreendo que a caminhada panafricanista não seja exercida, por isso citei o nome de algumas pessoas que sempre respeitaram a minha opção religiosa e aprendo nas trocas de experiências caminhos de respeito e solidariedade. Assim foi a minha vivência com Maria Beatriz do Nascimento e Lélia Gonzalez, mulheres quilombolas que dedicaram preciosos momentos de solidariedade e ensinamentos a um jovem protestante preto.
Um dos significados para o nome jeje na África é forasteiro, e a representação jeje também conforme desejo da plenária em Salvador passará por votação, e inclusive com uma representante dos terreiros mais tradicionais do Brasil: o Bogum, de qual conheci a falecida Doné Nicinha através de Valdina, e o Bogum nos deu tantos nomes importantes, como o falecido jornalista, advogado e poeta Jeová de Carvalho, que estudou no Colégio 02 de julho em Salvador-Bahia, e foi de origem presbiteriana, e tem em seus quadros só para citar: o Gilberto Leal, meu conhecido também de mais de 20 anos de militância. Não entendo que o povo jeje seja colocado também em votação para ter direito a fala. Pode até ser que os chamados "dinossauros" (adjetivo usado para antigos militantes do Movimento Negro), não saibam nada. Lembro-me dos conselheiros de Roboão, que execrou os “dinossauros” conselheiros do seu pai Salomão. I Reis 12:1-14.
Os meus respeitos ao povo Jeje com a irmã Elenira. Os meus respeitos ao povo Angola-Congo com a irmã Valdina e os meus respeito ao povo de Ketu com a irmã Lindinalva Barbosa. Os meus respeitos a todos os africanos na diáspora independente da religião que pratiquem, conforme sempre escrevo: não posso negar o meu irmão (a) porque professa uma fé diferente de mim e está oprimido pelo sistema branco em qualquer religião nesse país. Ele é uma vítima do racismo branco e como preto é tratado, seja protestante, católico, espírita, budista, muçulmano, de umbanda ou de candomblé.
O CONNEB a nível nacional tem como proposta reunir o povo preto no Brasil e que grande responsabilidade e desafio. Aí vem uma pergunta onde está o povo preto? Quais as religiões que praticam? Onde vivem? E por ai vai... Se desejarmos convidar o povo preto para criarmos um projeto político para esse país tem que ter representatividade, apesar de que não seja aquela dos meus sonhos, porque a dos meus sonhos pode não ser a representatividade real da qual desejo. Eu não posso criar uma falsa realidade e isso estou falando no sentido religioso especificamente. Não há como ignorar que no Brasil temos 15 milhões de pretas e pretos professando as diversas vertentes do protestantismo, e temos por alto uns 70 milhões de pretos e pretas que praticam o catolicismo romano. Não posso ficar sonhando em reuniões e quando saio das salas e dos debates acalorados chego em casa, encontro irmãos e irmãs de sangue, pais, tios, tias, primos e primas, companheiros e companheiras que não adotam o meu pensar religioso. Acredito que é necessária uma reflexão mais aprofundada sobre as religiões que estão praticando o povo preto no Brasil, e como questioná-las e inserir os seus membros nas lutas de verdadeira emancipação do nosso povo em uma rede solidaria panafricanista. Ou o CONNEB pretende através dos seus atos afirmar que a religião do preto no Brasil deve ser o candomblé? Pode até fazer politicamente e perderá a oportunidade de ouvir o povo preto brasileiro em sua diversidade religiosa.
Interessante é que alguns membros do CONNEB /BAHIA insistem em negar a voz aos protestantes pretos, mas, ainda não vi nenhuma organização religiosa que se negue a entregar projetos a organismos cristãos, como a CESE- COORDENADORIA ECUMÊNICA DE SERVIÇOS que é formada pela Igreja Católica e cinco igrejas evangélicas. Entendo que esses organismos nada fazem demais porque devem muito ao nosso povo independente de qualquer religião. Mas, será que o CNNC será bem recebido se for pedir apoio financeiro a qualquer organização de candomblé? Se a prática de algumas pessoas que se dizem porta-vozes dos terreiros é não a solidariedade e união. Não acredito que sejam os verdadeiros porta-vozes da religião praticadas pelos meus ancestrais.
O CNNC é a única organização cristã protestante preta que tem coragem de denunciar o racismo nas igrejas protestantes no Brasil e não aceita que os brancos dessas igrejas nos representem, isso deve ser levado em conta e respeitado.
Algumas sacerdotisas ainda rezam missas em seus terreiros e levam as iniciadas para a igreja católica para serem abençoadas por padres brancos, mantendo a tradição herdada do tempo da escravidão, não acredito que esta seja uma prática herdada do continente africano. Os padres brancos e seus rituais são ouvidos. Apesar de discordar dessa prática tenho todo o respeito e sempre que posso ouvir essas rainhas africanas assim o faço e o farei. Mas, conforme o desejo de algumas pessoas, os protestantes pretos devem ficar calados quando levantam as suas vozes para denunciar que as igrejas usurpadoras do Cristianismo de matriz africana os oprimem e alienam milhões de pretas e pretos nesse país, e acredito que temos que buscar apoio na irmandade preta na diáspora porque entendem e combatem o racismo.
Um debate onde somente as nações de candomblé falem não representa os cristãos protestantes pretos , acredito que também não representa os muçulmanos e nem os católicos pretos.
Como Presidente Nacional do CNNC recomendo que só participemos de debates sobre religiosidade se for de cunho panafricanista, onde todos os pretos tenham direito de fala. Temos que ouvir os protestantes, católicos, muçulmanos, umbandistas, candomblecistas e questionar que essas religiões estão propondo na luta libertária do nosso povo, no sentido prático de elaborações de propostas reais de ajuda mutua e caminhada de libertação, não sendo assim, o CONNEB não terá representatividade da maioria do povo preto neste país. O CONNEB não é uma instituição religiosa que defende uma ou aquela religião. O CONNEB acredito quer a representação dos diversos falares religiosos pretos brasileiros, se assim não o for, recomendo que o CNNC não faça mais parte da Executiva do CONNEB , deixando livremente aos seus membros a participação na construção do Congresso, se assim o desejarem.
O homem branco tentou nos calar e não permitiremos que irmãos e irmãs pretas que dizem “representar” os sábios sacerdotes e sábias sacerdotisas nos amordacem. Aprenderemos a andar como um só povo ou continuaremos dominados. Basta a Intolerância religiosa seja de quem quer que seja.

domingo, 23 de setembro de 2007

LEI 10.639: CANDOMBLÉ E PROFESSORES EVANGÉLICOS

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos.
Pseudônimo: Kefing Foluke.

LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque



No ano passado ministrando um pequeno curso na Igreja Batista de São Cristovão em Salvador-Bahia uma professora preta disse- me que sentia dificuldades em trabalhar a lei 10.639 em sala de aula, porque não concordava em falar de candomblé para os seus alunos sendo ela evangélica. Senti naquele momento a dificuldade que passam milhares de educadores evangélicos pretos ao se deparar com uma novidade em suas vidas: África. As religiões de origem africana como o candomblé possuem um grande respeito pela natureza e isso deve ser ensinado.
Em verdade o desconhecimento do continente Africano e sua pluralidade geo-histórica têm levado a imensas dificuldades no que tange ao desconhecimento das diversas matrizes também religiosas que ali se originaram, e temos que ensinar que a África-Mãe é a matriz de todas as ciências, filosofias e tecnologias primevas, sendo assim, defendo o afrocentrismo como o pilar do estudo da humanidade.
Em abril desse ano convidei o professor Ademário Brito para me acompanhar em um tema inédito o qual eu acreditava desde o momento que comecei a estudar a Bíblia e suas civilizações do Primeiro Testamento: O Cristianismo de Matriz Africana.
Com o desafio aceito, pela primeira vez no Brasil, afirmamos e comprovamos essa verdade que está mudando o foque de discursos de diversos pastores que atualmente assumem a nossa concepção, afirmando que a matriz do cristianismo é a África e futuramente acredito que o equívoco de grupos pretos cristãos de realizar encontros sem nexo, como: A Presença negra na Bíblia, não mais ocorrerão. Em breve haverá cursos sobre a presença caucasiana na Bíblia.
Tenho observado os diversos cursos patrocinados por faculdades e “detentores” do saber sobre a África que são seguidores de candomblé ou admiradores. O que vemos mais são pessoas sem autoridade falarem de África resumindo-a ao Golfo de Benin, Angola e Congo, excluindo Moçambique e todo o continente africano, se tem estudado uma África “iorubizada”, em uma crescente “iorobofolia” baseada nos estudos de brancos que escreveram e retrataram em diversos livros e álbuns povos do Golfo de Benin, que possuem uma grande importância na nossa comunidade preta, mas, não são os representantes de todas as culturas africanas, ao seu lado há muitas civilizações que devem ser repassadas.
Os professores evangélicos pretos têm um conhecimento embranquecido das faculdades e um ensinamento religioso branqueado nas igrejas, fazendo com que se sintam constrangidos a falar de África e concomitantemente explicarem vodun, inquice e orixá. O interessante que a demonização em direção a África passa despercebida e como se fosse “natural”. Professores evangélicos pretos falam dos deuses copiados do continente africano pelos gregos e romanos e assimilaram um grande demônio caucasiano que é o Papai Noel e ensinam nas escolas e igrejas e colocam a sua imagem nas suas árvores natalinas.
O candomblé é uma religião demonizada pela sua origem africana, o espiritismo que lida somente com os mortos, nem é citado. O espiritismo é de origem européia.
A lei 10.639 é uma grande oportunidade para o professor evangélico preto falar das civilizações africanas antigas e mostrar como a Bíblia é um livro escrito para as civilizações pretas e por mulheres e homens pretos. Falando nisso, eu continuo desafiando teólogos e historiadores para citar os grandes eventos do Primeiro Testamento que não sejam na África e sua continuidade no que os brancos denominaram Ásia. É necessário um estudo aprofundado da Bíblia para entender a apropriação e embranquecimento dos personagens bíblicos pelos europeus.
A grande questão é que os seguidores de candomblé citam sem nenhum constrangimento e nem questionam a fé de Martin Luther King, Nelson Mandela, Desmond Tutu, Steve Biko, Angela Davis, Marcus Garvey, Winnie Mandela, WEB Dubois, Franz Fanon, os Panteras Negras, o coroinha Francisco, conhecido como Zumbi dos Palmares, João Cândido, Solano Trindade, o muçulmano Malcolm X e tantos homens e mulheres pretas. Os professores (as) evangélicos pretos têm uma grande oportunidade de falarem dessas personagens em salas de aula.
O CNNC/Bahia no próximo mês de outubro estará oferecendo um curso sobre Afrocentrismo, Pan-Africanismo e Cristianismo de Matriz Africana para professores, estudantes universitários e militantes pretos, que será ministrado pelo professor Ademário Brito e por mim, sendo uma grande oportunidade para educadores evangélicos que sentem dificuldades em trabalhar esse tema em sala de aula.
Os interessados devem entrar em contato imediato com cristaosnegros@yahoo.com.br para ter acesso ao único curso sobre a África, Pan-Africanismo e Cristianismo de Matriz Africana.
O Curso também pode ser ministrado em outros Estados, em Igrejas, Seminários, Organizações do Movimento Negro e Grupos de Professores.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

OS HEBREUS PRETOS



Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke.

Os relatos sobre os hebreus são encontrados no Primeiro Testamento, escritos por eles mesmos. A história e arqueologia datam no aparecimento dos hebreus, entre 1950-1500 a.C. O fundador chamava-se Abraão, da cidade de Aram, filho de Terá, nascido em Ur da Caldeia. Todos nós sabemos que os povos da Mesopotâmia foram pretos de origem Cushita, conforme atestam as provas arqueológicas e lingüísticas. Sendo assim, Abraão foi um homem preto porque nesse período não havia civilizações brancas na Mesopotâmia, e seu pai , Terá, era um preto caldeu. No período da vida de Abraão e de sua saída de lá, a Mesopotâmia estava em guerra, sendo um período de migração. Os primeiros hebreus foram nômades e se estabelece­ram no delta fértil do Nilo, no final do Reino Médio do Egito..
Segundo Moacyr J. Scliar, que escreveu “Da Bíblia à Psicanálise: saúde, doença e medicina na cultura judaica” - Também não há unanimidade, entre os historiadores e arqueólogos, quanto à origem dos judeus. Poderiam ser originários da Mesopotâmia, a região entre os rios Tigres e Eufrates; ou poderiam ser nômades, que, vindos do desertos da península arábica, estabeleceram-se, no período neolítico, na região conhecida como Canaã; pode­riam ser um grupo originário dos próprios canaanitas, uma seita religiosa dissidente (Cantor, 1996, p. XV).
FALASHA (BETA YISRAEL DA ETIOPIA)
Falasha significa “exilado”, e na língua etíope significa “um desconhecido”. Os judeus negros são chamados de falashas em sentido pejorativo. Na Etiópia, se dizem descender de uma das dez tribos perdidas de Israel. São conhecidos também por "Kaila" nas regiões de Walkait e em Tchelga são conhecidos como "Fogara" ou por "Fenjas".
Há algumas tradições sobre a origem do Beta (casa) Israel, de que eles são descendentes de um grupo da tribo de Dã, dispersos na primeira diáspora. Guardam a tradição de que são descendentes de judeus que foram expulsos na época da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.; outra que são descendentes de um grupo que veio de Jerusalém acompanhando a Rainha de Sabá, e outra que foram convertidos ao Judaísmo no primeiro século.
Os falashas mantêm diversas tradições judaicas: guardam o sábado, não comem carne de porco, acreditam em encantos e possuem amuletos.
Foram reconhecidos como judeus, primeiramente, pelo principal Rabbi Sefardin em 1973, e então pelo principal Rabbi Ashkenazi em 1975.Em 1985 o serviço secreto israelense Mossad, juntamente com a CIA, implantaram por 03 anos a Operação Moisés, que tentou tirar da Etiópia 14 mil judeus negros.
O sucesso não foi o esperado porque somente oito mil falashas fo­ram retirados através do Sudão e levados a Israel de barco. Muitos adoeceram e retomaram a Etiópia. A Operação Moisés teve falha. Em 1991, as Forças de Defesa de Israel retiraram da Etiópia 14.200 falashas e os conduziram para Israel, essa foi a Operação Salomão. Foram enviados a Adis-Abeba 35 aviões militares e civis com tropas especiais e comandantes acostumados em guerras, para protegerem a retirada dos falashas. Estão em Israel se adaptou a vida do país, convivendo com a discriminação racial.

LEMBAS

Os cientistas afirmam que o ancestral comum dos Lembas viveu entre 2.000 e 3.100 anos, época que coincide com a vida de Arão, o irmão de Moisés. O chefe da equipe, que fez o exame de DNA, foi o geneticista inglês David Goldstein, da Universidade de Oxford, em 1999. Os lembas são cohanitas, descendentes dos sacerdotes do templo de Israel. Uma tradição afirma que eles são descendentes de Arão, irmão de Moises. Atualmente, no Judaísmo, os cohanitas possuem privilégios e obrigações.
Aproximadamente há 2.500 anos, um grupo de judeus deixou a Palestina e se estabeleceu no Yemen. Foram conduzidos pela casa de Buba. No Yemen eles construíram uma cidade chamada Ba-Sanaa, que significa “pessoas de Sanaa”. E sobre o domínio da casa Hamsi atravessaram o mar vermelho foram para a África e se dividiram em dois grupos. Um grupo ficou na Etiópia, outro grupo foi mais ao sul e se estabeleceu em uma região hoje conhecida com Tanzânia. E no Quênia construíram a Segunda cidade de Sanaa. Prosperaram e tiveram um grande aumento populacional e daí saiu um pequeno grupo que se estabeleceu em Malalavi e no Quênia. Ainda estão nesses países e são conhecidos como Ba-Mwenye (Senhores da Terra). Outro grupo, os da liderança da casa de Bakali, estabeleceram-se em Moçambique e construíram o terceiro Sanaa chamado de Ba-Sanaa. Após isso, uma parte do grupo, sob a liderança de Seremani, estabeleceu-se em Chiaramba, que hoje é Zimbábue e são conhecidos como B-lemba–­Lemba; outro grupo foi mais para o sul na região da África do Sul e estão em Venda, Louis, Trichadt, Pietrsburg e Tzaneen (pesquisa o mapa da África do Sul). O interessante é que foi feito um exame de DNA em um clã particular dos Lembas, especificamente no clã de Buba, e 53% dos homens possuem assinatura original do DNA realizada em 1999 pelo geneticista inglês David Gold Stein, da Universidade de Oxford, quem comprovou que os Lembas tem como ancestral comum Cohin. Sendo assim, eles são descendentes de Arão, irmão de Moisés, e os cohanitas eram os mais importantes sacerdotes hebreus, que cuidavam do templo e eram auxiliados pelos Levitas.
Os Lembras acreditam que há somente um Deus, e este é conhecido como Nwali. Guardam o sábado, ensinam as crianças a honrar seus pais e as suas mães, praticam a circuncisão, não comem carne de porco ou nenhum animal proibido do Antigo Testamento, não misturam leite e carne nas suas refeições, lavam sempre as mãos antes que segurem o alimento ou utensílios na cozinha e sempre agradecem a Nwali. Usam o calendário lunar, os rituais de sepultamento, as cabeças devem sempre estar em direção ao norte, para lembrar de onde vieram, e colocam uma estrela de Davi na tumba. Casam sempre dentro do grupo, têm que aprender as leis religiosas e dietéticas. Se alguma mulher quer se casar com algum lemba tem que raspar a cabeça. Deve aprender todos os costumes lemba. Eles estão construindo o templo e estudando hebraico, aprendendo sobre o Tora, sendo auxiliados por rabinos israelitas.
As provas genéticas, históricas, genealógicas, lingüísticas e arqueológicas a­testam que os hebreus antigos foram negros. E muitos desses remanescentes dos antigos hebreus que ficaram no continente africano na época de Moisés retornaram, em diversos períodos, por migrações, ao continente africano. Tiveram membros escravizados depois de milhares de anos pelos colonialistas europeus. Sabemos hoje que, dos grupos étnicos seqüestrados para o Brasil, vieram descendentes de hebreus pretos, especialmente do tráfico feito pelo Oceano Indico, da região hoje conhecida por Moçambique. Entre esses grupos podemos destacar os Chonas, Tichongas e outros. Isso significa que judeus negros foram escravizados e que há descendentes dos primeiros hebreus em terras afro-americanas.
Nas religiões de matriz africana, de tradição bantos no Brasil, uma das principais divindades ancestrais é denominado LEMBA ou LEMBARANGAGA ou GUARATINHANHA que é o Senhor da Vida ou o Senhor da Boa Vida ou o Senhor da Argila, porque, segundo a tradição, criava os seres humanos.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

POVO SANTO E POVO DE SANTO

Por: Ulisses Passos. Acadêmico de Direito, Pan-Africanista e Presidente do CNNC/BA. Pseudônimo: Aswad Simba Foluke

Esta foi uma frase da reportagem “Mesmo contrariado, movimento negro se aproxima dos evangélicos” que saiu no blog do “O cronista”, http://www.ocronista.net/18027/18090.html relatando a questão dos evangélicos pretos e os seguidores de candomblé. Hoje o jornal “A Tarde” da Bahia publicou no caderno dez, uma reportagem que tem sob o título: Jesus negão, sangue bão, de autoria do jornalista Danilo Fraga, que não colocou no caderno a integra das respostas enviadas pela diretoria do CNNC-BA, que é composta por jovens pan-africanistas, afrocentrados e defensores do cristianismo de matriz africana. O artigo que o jornalista Danilo Fraga escreveu não retrata a verdade do CNNC e será de bom grado que a real reportagem seja publicada no caderno dez.
Na análise do discurso dessas duas reportagens feitas sobre o CNNC, demonstra a perplexidade que se situa as duas matérias expostas.
O CNNC (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos) sendo a única organização pan-africanista do Brasil defende o amor e compreensão a todos os africanos e seus descendentes na diáspora, independente de sua prática religiosa. Nós amamos os irmãos e irmãs pretas do candomblé, do catolicismo, espíritas, agnósticos, seguindo o exemplo do nosso Mestre Yeshua ( Jesus Cristo) que ama a toda a humanidade. Amar não significa que temos a mesma prática religiosa, temos as nossas diferenças conceituais no que tange a adoração e a fé. Temos o direito de adorar a Senhor de todos os senhores a nossa maneira
O CNNC acredita no pan-africanismo e não no ecumenismo religioso. O ponto que nos une aos seguidores de outras VERTENTES RELIGIOSAS É A MESMA ANCESTRALIDADE, somos membros da mesma família africana, que na diáspora seguimos caminhos religiosos diferentes, mas, estamos na mesma “barca”, saímos da mesma “barca”, no mesmo momento, e, por isso somos irmãos e irmãs na diáspora. Não podemos nos deixar enganar pelas táticas divisionárias do poder branco, que ainda tenta nos dividir, objetivando manter o controle político com a nossa divisão. Quem ganha no acirramento e na divisão do nosso povo?
Os jovens do CNNC não serão instrumentos do racismo contra o nosso povo e nem entrarão nos ventos divisionários de pessoas que não compreendem o pan-africanismo em toda a sua essência.
Pela afirmação do CNNC que o Cristianismo é de matriz africana, trouxe uma nova reflexão para os estudos históricos, sociológicos, políticos e religiosos. Não há como contestar ESSA AFIRMAÇÃO, não há contra-resposta. Quando afirmamos que Yeshua foi um homem preto e pan-africanista, afirmamos que houve uma apropriação do cristianismo pelos europeus, culminando no catolicismo romano, o qual afirma que a igreja foi fundada em Roma, portanto, cria-se até dentro das pastorais negras da igreja católica, um desafio: A essência do cristianismo é africano e não romano, sendo assim, a nossa proposta é veementemente verdadeira e resgata a história do povo preto dentro da Afro - Ásia.
Atualmente o CNNC-BA tem sido um embaixador de Yeshua. Em todas as reuniões que participamos do Movimento Negro mostramos que somos jovens atuantes, conscientes e engajados nas lutas do nosso povo e o racismo discrimina sem perguntar religião. Nós estamos de mãos dadas com todos os irmãos e irmãs pretas nas lutas pelos direitos civis seja esse irmão de qualquer opção de fé, por isso afirmamos que somos panafricanistas.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

NEGRO OU PRETO: COMO SE DECLARAR O AFRICANO NO BRASIL

Por Walter Passos.
Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke.


Com o avançar da luta contra a discriminação racial no Brasil, grupos se auto-declaram negros ou pretos. Alguns dizem: “preto é cor e negro é raça”. Ninguém diz que é da raça preta. Sabemos que há uma só raça, que é a humana, e ela foi criada por Deus no Jardim do Édem, segundo os criacionistas. Conforme os estudos históricos, hermenêuticos e exegéticos, os homens foram criados da cor da lama preta. Os evolucionistas acreditam que houve uma evolução do ser humano; e os fósseis mais antigos estão na África. Por conseguinte, toda a humanidade surgiu nesta terra abençoada, com bastante melanina, da cor preta.
Os europeus, com as suas línguas, renomearam locais e civilizações. Como exemplo, temos a palavra Mesopotâmia, que na língua grega significa "entre rios" (meso - pótamos). Sabemos que a Grécia começou a formar-se provavelmente entre 2.000 a.C a 1800 a. C . As civilizações que estavam na Mesopotâmia já existiam há milhares de anos e chamavam essa região “terra dos étiopes”.
Não podemos perder o foco da discussão. Essas colocações acima são apenas uma chamada à reflexão sobre a palavra negro e a palavra preto. E já vos deixo estas perguntas:
Qual civilização européia denominou os habitantes da África de negro ou preto?
Como devemos nos auto-declarar, sem um conhecimento da história, etnolingüística e da semântica?
O que está por detrás da palavra negro?
Qual é o seu verdadeiro significado?
Como se auto-declaravam, nos documentos, os antigos egípcios?
O que significa nigger e black na língua inglesa?
Não sendo eu um etnolingüista, este texto é uma provocação para que as pretas e pretos lingüistas emitam opiniões e, assim, trabalhemos para a (des)construção da dominação lingüística que paira sobre o nosso povo. Sendo esse texto bem pessoal, o leitor observa a minha preferência pelo termo preto e não negro. Acredito que todo escrito traz implícita uma dose de parcialidade. Também é fato que todos os pan-africanistas que conheço se auto-declaram africanos no Brasil e pretos na diáspora.
A palavra negro vem do latim niger e nigur, que se originou do grego necro, e significa “morte”. Você pode se lembrar de quantas palavras do radical grego necro temos na língua portuguesa? A palavra necromancia, que significa adivinhação através dos mortos, se aplica como “magia negra”. Sem falar de necrotério. Uau! Só coisa de morte. E aí começam os problemas. Foram os romanos quem usaram esta palavra, que em algumas línguas neolatinas se tornou: nègre – francês, negro – espanhol, negro – português, nero – italiano.
A língua é usada para dominar, manipular, distorcer. A língua é uma das formas mais eficazes de o explorador racista dominar um povo, e a língua portuguesa é oriunda de nações escravizadoras: os gregos e os romanos.
Na África, até a chegada dos europeus, não havia “negros” e “pretos”, mas africanos de múltiplas e variadas tradições culturais. Os africanos, de múltiplas cores, tornaram-se “negros” apenas em relação aos europeus dominadores. Assim escreveram Maestri e Carboni, em A Linguagem escravizada.
É interessante notar que a antropologia européia cria o vocábulo negro para “estudar e classificar” as civilizações invadidas, especialmente da África. A antropologia é uma das mais poderosas armas do europeu para mistificar e manipular as civilizações invadidas e dominadas.
Conforme os escritos do afrocentrista Cheik Anta Diop, os egípcios se consideravam povos da pele “preta como o carvão” e tinham apenas um termo para designar a si mesmos: kmt "os pretos" (literalmente). O adjetivo kmt significa rigorosamente "preto'', ou, pelo menos, “homens pretos”. O termo é um coletivo que descrevia, portanto, o conjunto do povo do Egito faraônico como um povo preto. E eles foram uma das mais antigas civilizações da África e do planeta.
A nossa conversa está ficando muito longa e, como disse anteriormente, estamos começando a discussão.
Ser negro ou ser preto? Ou ser africano na diáspora?
Como você leitor (a) se declara?
Esse espaço está aberto para que possamos denegrir as palavras com um empretecimento do nosso ser.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O RACISMO NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL



Por: Aidan Dudu Labalãbã
Este é o meu pseudônimo, o qual escolhi por não aceitar os nomes dados pelo escravizador. O meu nome pela língua imposta pelos brancos é Vanessa e sou membro da Igreja Presbiteriana Unida, em Salvador-Bahia e Tesoureira do CNNC/Bahia

Sou membro da Igreja Presbiteriana Unida de Valério Silva, um dos primeiros pastores pretos na Igreja Presbiteriana do Brasil, localizada em um bairro muito carente de Salvador. Sou professora da Escola Bíblica Dominical (EBD) na classe das crianças e há um bom tempo questiono o ensino aplicado.
As Igrejas Protestantes chegaram ao Brasil com o Protestantismo de Missões vindo do Sul dos EUA. Sabemos que até hoje existe segregação nos EUA em todas as estruturas da sociedade, com ações violentas e no passado teve grande influência da Ku Klux Klan, organização racista formada por brancos protestantes. Esses protestantes vieram ao Brasil, especialmente, durante o período da Guerra da Secessão (1861-1865), muitos fugindo e instalando-se trouxeram as suas práticas racistas para a vida da nossa população preta, a qual já era vitima do racismo católico.
Formaram uma igreja embranquecida, nos moldes excludentes de suas igrejas norte-americanas. Os quais os ensinamentos ainda são transmitidos por nossas lideranças em nossas igrejas, através da Teologia, dos hinários, cânticos, inclusive em grandes bandas e cantores evangélicos que possuem como fãs a comunidade preta evangélica.
E como esse conteúdo racista é repassado as nossas crianças? Bem simples. Através da reprodução sucessiva dessas práticas. Toda professora ou professor da EBD é escolhido pelo pastor. E o mais interessante às pessoas escolhidas são aquelas que aprenderam às lições racistas com nota dez! Tornando-se propagadores do racismo melhor do que os seus professores.
Como nos EUA os pretos contestavam essa pedagogia racista da igreja, foi possível a criação de uma teologia inclusiva nas comunidades afroamericanas, mas aqui não há nenhum tipo de contestação. Só há: Amém! Aleluia! Oh Glória! A cor do diabo é preta mesmo?! Então sua liderança não tem uma visão critica do problema, isso é ensinado livremente. Mesmo que esse ranço racista seja ensinado uma vez na semana em nossas igrejas, porém, ele já esteve presente os outros seis dias na escola formal e em todos os setores da sociedade. E chega ao domingo atingindo algo mais valioso na nossa existência que é nossa espiritualidade, nosso intimo e afetando e influenciando a auto-estima.
Os africanos e seus descendentes são o povo mais espiritual de todo mundo, e a temos em toda nossa vida.
Lembro-me quando pequena estava trocando de sala na EBD. Saindo da sala de seis e sete anos indo para de oito e nove anos. E minha primeira lição na classe foi: a cor dos corações que não tinham Yeshua, aqueles que estavam sendo lavados e os que já estavam prontinhos. Aí tinha lá três corações colados no quadro: um preto, um vermelho e um branquinho! E a professora disse: -Esse coração preto aqui é aquele onde vive ainda o ódio, a falta de obediência, o pecado.
Continuou:
- O vermelho é aquele já aceito a Yeshua e está sendo lavado pelo seu sangue, deixando de ser mau. E o branquinho aquele que Cristo já habitava e que já estava purificado.
Eu era pequena, mas minha família me deu base para que não absorver a lição. Pois sempre me explicou que Yeshua era preto e Diabo era da cor da estrela D´alva. Sempre meus pais compraram bonecas pretas e nunca me deixaram assistir esses programas infantis onde todas as apresentadoras são brancas, loiras como: Xuxa e entre outras. Isso aconteceu comigo tem mais ou menos uma década e é bem parecido com que a APEC passa. E a APEC já está ai há quanto tempo? Evangelizando as nossas criancinhas pretas com seus ensinamentos racistas na EBB ou fora. Acho que desde década de 30 com seu fundador, trabalhando com as crianças as cinco cores no seu livro sem palavras que são: verde, amarelo, branco, vermelho e preto. Designando significados a cada cor. Sendo o verde a nossa esperança de ir para o céu; a cor dourada é o céu; a cor branca é o nosso coração puro, e alvo; a cor vermelha é o sangue de Yeshua que nos purifica do pecado e a cor PRETA que é o pecado que nos levará para o inferno.
E ainda as suas paginas brancas e pretas, sendo tudo que é branco é bom e o que preto ruim. Possuem em sua coleção de materiais: canetas, réguas e em tudo isso mostrando que a cor preta é o pecado o inferno! Ultimamente a cor preta foi trocada pela cor cinza, para mim o pecado ficou multiétnico, por que a cor cinza é a mistura da branca com a cor preta. O qual também a letra da música foi modificada, o preto é colocado como o sujo e o branco alvo. Aqueles (as) que não conhecem a APEC não permitam que os seus pequeninos serem evangelizados dessa maneira:
“Meu coração era PRETO,
Mas Cristo aqui já entrou,
Com seu precioso sangue,
Tão BRANCO assim o tornou.
E diz em sua Palavra,
Que em ruas de ouro andarei,
Oh, dia feliz quando eu cri,
E a Vida Eterna eu ganhei."

Então, agora estamos libertos dessa essência racista da APEC em nome de YESHUA PRETO!
Bem, então percebemos que essa EBD é uma escola com objetivo de embranquecimento ou branqueamento, pois leva as pessoas desde pequena à negação de sua origem, criando em nossas crianças o autopreconceito, a falta de amor consigo mesmas e com o nosso próximo. O machismo com as nossas meninas e meninos. O medo para com Deus que é ensinado como que maltrata e castiga! Não ama e nem cuida. Um Deus que parece mais um senhor de engenho, que leva para o tronco quando não faziam aquilo que mandavam.
Creio que a EDB precisa ser completamente reformulada começando pelas nossas lideranças que ainda nos seus seminários devem implementar a lei 10.639, para um maior e melhor estudo da origem cristã!
Precisamos urgentemente uma reformulação nos livros didáticos aplicados na EBD.
O CNNC está projetando novos livros e precisa de educadores (as) pretos para elaborar esses livros o mais rápido possível, pois nossas crianças não podem ser mais alienadas! Se você é educador (a) entre em contato com o CNNC. Estaremos promovendo um encontro de professores da EBD, para que possamos discutir com mais profundidade essa questão. Junte-se a nós!
E o mais importante: devemos fazer uma denuncia de racismo contra a APEC, pois isso não pode fica assim!
“Ensina o caminho que a criança deva andar e quando for grande não se desviará dele."
Provérbios 22:6
Creio que devemos criar um caminho de igualdade e respeito pelo povo preto a partir da infância também nas Escolas Bíblicas Dominicais.
Um pedido a todos os professores ou futuros professores da EBD: Vamos começar a ouvir nossas crianças e adolescentes, pois eles têm muito que dizer. Vamos deixar de sonhar e partir pro concreto para a realidade deles!
Leia mais sobre o assunto:

http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=10443953&tid=2484674022827102994&kw=Escola+B%C3%ADblica+Dominical

http://br.msnusers.com/AfrodescendentesnasIgrejasEvangelicas/general.msnw?action=get_message&mview=0&ID_Message=37&LastModified=4675379855694812336

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA

Por Darlete Gomes Nascimento.

Pseudônimo: Asantewaa

Licenciada Plena em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa. Professora de Espanhol e Tesoureira do CNNC/BR


Inicia-se mais um dia de aula. Este momento sempre representou uma enorme alegria, pois adoro estudar. Além do mais, preciso me esforçar muito para ser, se não a melhor, pelo menos uma das melhores da turma. Assim eu serei sempre bem aceita entre os meus companheiros. E eles são tão bacanas, tão camaradas! Ontem mesmo me disseram algo que adoro escutar: “você é muito legal; uma negra de coração branco”. Como estas palavras me enchem de alegria! Demonstra que realmente sou bem aceita entre eles. Até me sinto igual a eles. Tudo bem que a cor da minha pele e meu cabelo pixaim sempre me farão diferente deles. Mas, o que importa? Meu coração é branco, o que quer dizer que estou bem próxima de ser como eles.Hoje vamos estudar história do Brasil. Ai, meu Deus! Apesar de amar esta disciplina, sempre fico muito nervosa quando estudamos história. E se for falar da escravidão? Puxa! Minha mão já está suando. Por que não consigo controlar este nervosismo? Será porque eu sinto como se todos estivessem olhando para mim? Mas vai passar logo. E, na hora do recreio, eu divido minha merenda com eles, e o assunto fica esquecido. Claro que não vai dar para todos, mas não importa. Os meus companheiros mais chegados, aqueles que sabem que minha pele é negra, mas meu coração é branco, esses sim merecem compartilhar do que eu tenho. Claro, eles conseguem enxergar além da minha cor: eles vêm o meu coração!
Hora do recreio. Bom, já não estou mais tão nervosa. A tortura já passou. É hora de eles saberem realmente o quanto meu coração é branco.
Sentamos-nos numa roda, a mesma galera de sempre. Gosto muito dos meus amigos. Comentamos sobre a aula. Bem que podíamos pular esta parte! Mas não vou dizer nada, vou participar da conversa. Afinal, sou quase como eles. Ah, não! Piada de preto de novo? Bom, como sempre, serei a que rirá com mais gosto. Não posso deixar de achar graça dessas piadas que fazem, falando dos negros. E meu colega é tão engraçado! Ele tem uma forma muito legal de contar piada. Mesmo porque, se eu não rir, serei uma estranha no meio de todos, que riem com tanto gosto. Na verdade eu não gosto da forma como minha raça é tratada nessas piadas, mas sei que é tolice minha. Eles não fazem isso por maldade: são apenas crianças se divertindo na hora do recreio. E, afinal, se meu coração é branco como eles, isto quer dizer que posso me sentir assim como eles. Isto é o que realmente importa!
Muitos anos já se passaram desde aquele tempo em que ouvir que sou “negra de coração branco” era um episódio rotineiro de minha infância.Hoje, ao recordar tais fatos, percebo o quanto se pode ser cruel com uma criança. Foi-lhe ensinado que ela pertence a uma raça inferior e que, para ser bem aceita no grupo dominante, precisava agir da forma imposta por eles. Mas percebo que meus companheiros também foram vítimas dessa atrocidade chamada racismo. Eles reproduziam falas. O maléfico ciclo se perpetuava através deles. E através de mim! Porque, na minha inocência, era assim que deveria ser. Mas não! Mil vezes não! Eu não sou uma negra de coração branco. Meu coração vive trabalhando sangue. Então ele é vermelho. Assim como o de todos os seres viventes. Não quero o coração branco que eles querem atribuir-me. Eu me recuso a permitir que apontem as minhas qualidades, especificamente as boas, como característica de sua raça. Não!

Sou negra! Pertenço ao povo criado por Deus, os primeiros seres que vieram a existir. Sou filha da África.

Transformarei em ações positivas a dor que sinto por haver sido instrumento da perpetuação dessa imposição branca. Porque eu sei que o fui. Eu também reproduzi falas. Também ensinei que o pecado é preto. Que o coração bom é “alvo mais que a neve”. Que me perdoem todos os meus antepassados! Mas que também saibam que têm, nesta orgulhosa mulher preta, uma reprodutora da beleza e da excelência da nossa negritude.

Porque, cada dia, representa um aprendizado. Não é fácil desfazer-se de ensinos fortemente enraizados. Livrar-se de dogmas não é tarefa simples. Mas há um caminho: a coragem! É preciso coragem para um olhar interior, sem que nos seja imposta a forma como deve acontecer este olhar. Eu, assim como todo o povo preto, precisamos entender que não somos fruto de algo que não deu certo. É disso que tentam convencer-nos. Precisamos de coragem para assumir nossa negritude, em sua forma mais ampla. Este é o despertar de uma nova consciência. Oxalá meus amigos de infância hajam podido amadurecer e livrar-se desta mácula chamada racismo. Para o bem deles!

Não posso voltar ao passado. O que posso, e faço, é ver neste passado uma bússola que me aponta o caminho para assumir-me como a mulher negra que um dia foi a criança torturada pela ignorância.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A mulher negra evangélica e a rejeição do homem negro evangélico


Por: Elba Oliveira Chrysostomo
Pseudônimo Makeda Foluke Nabulungi.
Professora, Pan-africanista, Secretária do CNNC/Ba e Fiscal CNNC/Br.

Bela, formosa, inteligente, “benção de Deus”, porém, rejeitada. Essa é a frase de milhares de mulheres negras que vivem dentro das igrejas evangélicas. São belas e formosas, inteligentes, uma benção para vida dos irmãos – mas não servem para casar.
Falar sobre a mulher negra é sempre momento de reflexão e sobre a mulher negra evangélica não é diferente por esta sofrer tripla discriminação: ser mulher, negra e evangélica, enfim uma mulher negra que sofre, não menos que as demais.
Não é novidade que a mulher negra é, em sua maioria, rejeitada pelo homem negro e explorada em diversos aspectos pelo homem branco. Dentro da igreja evangélica isso não é diferente. Historicamente, a figura da mulher negra foi criada por trás do estereótipo de beleza e sensualidade: uma imagem totalmente sexualizada. Essa dualidade marcou sociedades inteiras por causa da escravidão, marcando também, o homem negro que tornou-se machista, aprendendo com o mundo ocidental tal prática.
É bastante comum encontrar irmãs, em média, com 30/40 anos solteiras dentro das igrejas, simplesmente porque nenhum irmão a desejou para casar-se com ela. As mulheres negras na igreja, muitas vezes, são consideradas feias. Em contra partida é bastante comum, também, encontrar irmãs brancas casadas com negros e brancos da igreja (essas brancas casadas com negros são, em maioria, pobres e, ou com pouca instrução), enquanto as negras servem para profetizar, para limpar, para orar e não para ter uma família como as demais mulheres: a dita vida “abençoada por Deus”.
Muitas das mulheres negras casadas foram ou são violentadas, física ou moralmente por seus maridos machistas. Outras solteiras foram exploradas sexualmente, enganadas com falsa promessa de casamento.
Os jovens negros das igrejas “ficam”, às vezes, com uma irmã negra – e isso, geralmente às escondidas – mas dificilmente deseja casar ou assumir um relacionamento que gere futuro casamento. Namorar e casar, preferencialmente, com as brancas, pois ser negra na igreja é sinônimo de feiúra e casar com uma negra não “dá bons cargos” nem “status”. Muitos negros evangélicos não são diferentes de alguns negros que estão fora das igrejas ambos gostam de exibir uma branca como se fosse um troféu e isso, acontece não porque de fato estão apaixonados por elas, mas é como se isso lhes desse o título superior de posse por estar com uma branca. Eles tem relações sexuais com as negras, mas dificilmente casar-se-ão com uma delas. O machismo ocidental, com certeza, se repete dentro das igrejas.
Não se dá ênfase para os relacionamentos entre os negros, não há questionamento dentro das igrejas do porque de a maioria das famílias negras dentro das igrejas serem desestruturadas.
Mães separadas que geraram futuras mães ou mulheres solteiras e separadas, não se questiona o porquê de o homem negro rejeitar, usar e abusar da irmã de sua cor, muito menos o porquê de muitos irmãos negros terem muitos filhos com famílias diferentes. Desestruturar as famílias é uma das piores violências que se pode cometer contra um povo, é mais uma forma de genocídio do nosso povo.
As igrejas ao tentarem comentar o racismo – da para contar as que fazem isso – elas o abordam de forma que, aparentemente, o racismo e o racista estão somente lá fora, no “mundo”, ou melhor, na sociedade e não algo que realmente envolva a igreja e que esteja, também, dentro da igreja. Existe a hipocrisia da falsa igualdade. É necessário recontar e reescrever aspectos de nossa história africana é preciso desconstruir os dramas que sucedem às famílias negras evangélicas. A mulher negra foi, profunda e intimamente, marcada negativamente e a igreja ainda hoje fere o ser mulher negra evangélica. É preciso construir na igreja a cultura negra e estimular o amor entre nosso povo, é preciso desconstruir o machismo ocidental que desestrutura e destrói as nossas famílias.
Para finalizar a nossa reflexão quero deixar alguns versículos do livro de Cantares 1 de Salomão o qual ele escreveu junto com a sua negra Makeda (a Rainha de Sabá 1Reis10). Que os homens negros possam amar as suas mulheres negras assim como Yeshua planejou. Que os homens negros sejam libertos do machismo ocidental que marginaliza o amor e as nossas famílias.
1 – “O cântico dos cânticos, que é de Salomão”
2 – “Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho.” (Salomão)
5 – “Eu sou preta e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.”(Rainha de Sabá)
6 – “Não repareis em eu ser preta; os filhos de minha mãe indignaram-se contra mim, e me puseram por guarda de vinhas; a minha vinha, porém, não guardei.” Neste versículo a marca de resistência da mulher preta e a inveja das demais mulheres. (Rainha de Sabá)
10 – “Formosas são as tuas faces entre as tuas tranças, e formoso o teu pescoço com os colares.” (Salomão)
11 – “Nós te faremos umas tranças de ouro, marchetadas de pontinhos de prata.” (Salomão)
12 – “Enquanto o rei se assentava à sua mesa, dava o meu nardo o seu cheiro” (Rainha de Sabá)
13 – “O meu amado é para mim como um saquitel de mirra, que repousa entre os meus seios” (Rainha de Sabá)
14 – “O meu amado é para mim como um ramalhete de hena nas vinhas de En-Gedi” (Rainha de Sabá)
15 – “Eis que és formosa, ó amada minha, eis que és formosa; os teus olhos são como pombas.” (Salomão)
16 – “Eis que és formoso, ó amado meu, como amável és também; o nosso leito é viçoso.” (Rainha de Sabá)

Paz e Bem de Yeshua, o Cristo!

O PAN-AFRICANISMO E CRISTIANISMO










Por Jose Raimundo dos S. Silva. Pan-africanista
Pseudônimo: Thembi Sekou Okwui.
Concluinte de Direito e membro do CNNC – SP


"Existe algo calamitoso que tenho visto de baixo do sol, como quando há um engano que se propaga por causa de quem está em poder."
Eclesiastes 10:5

Não é tarefa fácil falar do pan-africanismo enquanto movimento histórico. Como também não é tarefa fácil falar do cristianismo enquanto tal. Mais complexo ainda é tentar fazer uma análise conjunta dos dois movimentos. No entanto, num determinado momento da história, ambos se entrelaçaram porque conseguiram encontrar suas raízes comuns na história do mundo antigo, sobretudo, na história da África.
Como a intenção é fazer uma co-relação específica entre pan-africanismo e cristianismo, muitos fatos importantes relativos à história pan-africana aqui vão ser omitidos. Não que não seja necessário serem abordados. Mas sim porque falar neles exigiria uma demanda de tempo maior.
Outro motivo para não serem abordados refere-se à própria exigência do momento, qual seja: especificidade entre pan-africanismo e cristianismo.
Bem, antes de adentrar no tema em si, cabe fazer duas provocações. A primeira é que, para compreendermos mais aprofundadamente a co-relação entre pan-africanismo e cristianismo, é necessário voltarmos ao passado e compreendermos a história da África sem os conceitos tradicionais históricos de civilização, reproduzidos pelos meios de comunicação, pelo processo educacional e pelas instituições sociais (por exemplo, igreja).
Faz-se necessário que nós deixemos de lado as idéias pré-concebidas, acintosamente racistas, de uma África pagã, bárbara, incrédula, primitiva, anti-civilizatória e habitada por homens e mulheres que viviam seminus em meio de animais selvagens. É preciso deixar de lado a idéia de que não existia organização social e política no continente africano. É preciso deixar de lado a idéia de que todos os seus povos eram iguais cultural e religiosamente, que lá não existia nenhum tipo de diversidade humana e geográfica.
Faz-se necessário articularmos novos raciocínios sobre a história da África, imaginando diferente do raciocínio habitual. É preciso deixar de olharmos para nossa história, assim como para nós mesmos, com o olhar do outro. Daqueles que nos dominou. É preciso que nós, negros, deixemos de nos olhar, e olhar para nossa história, com o olhar que os brancos nos ensinaram olhar.

Assim, para ratificar o dito, e o que possivelmente poderia ser dito, cabe trazer à tona um pensamento, adaptado, do arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu: Ao aceitarmos a opressão e a exploração, nós negros sofremos uma lavagem cerebral. Passamos a acreditar no que as outras raças pensam sobre nós. Enchemo-nos de desprezo, de desrespeito e ódio por nós mesmos. Aceitamos uma auto-imagem negativa de nós mesmos de tal maneira, que aceitamos a idéia de que apenas a raça branca realmente importa, que ela é que devem ditar nossos padrões de comportamento e fornecer os exemplos que devemos seguir. Precisamos de enormes graças para exorcizarmos esses demônios do ódio por nós mesmo.





Desmond Tutu

Este então é a primeira provocação feita para que possa haver uma compreensão da co-relação entre pan-africanismo e cristianismo.
A segunda provocação refere-se à necessidade de rompermos com a ideologia cristão-ocidental que se fundamenta numa concepção européia (branca) de religiosidade e concepção de mundo.
No entanto, é importante frisar a diferença entre religião cristã e fé cristã. A religião cristã pode ser encarada como uma instituição. Quando encarada como tal, veremos que ela foi passível de manipulação ao tornar-se instrumento para alienação de pessoas. Diferente é a fé cristã, que não depende, necessariamente, da instituição religiosa cristã. A fé cristã está ligada ao relacionamento espiritual de um determinado grupo, ou indivíduo, com Jesus Cristo. A fé cristã é a capacidade incondicional de se acreditar no poder de Cristo como eterno Salvador.
Feita esta diferenciação, direciono então esta minha provocação contra o cristianismo enquanto instituição religiosa, que há muito tempo tem servido de instrumento de dominação de povos e supressão de identidades. Sendo assim, é necessário resgatarmos alguns fatos históricos entre cristianismo e o povo negro.
Por cerca de 350 anos, mais de 100 milhões de africanos foram retirados brutalmente da África e trazidos desumanamente para as Américas, Norte, Sul e Central. Este acontecimento tornou-se a maior catástrofe humana que o mundo já conheceu: o genocídio e escravização dos povos de origem africana.
Infelizmente, um dos vários instrumentos utilizados pelos europeus para dominar, escravizar e até mesmo exterminar os africanos foi o cristianismo (cristianismo enquanto instituição religiosa). Através do cristianismo, os brancos diziam que eram predestinados por Deus para levar a bendita civilização aos povos não-brancos. Eles prepararam o cenário com o cristianismo e marcaram com rótulo de “pagãos” e “idólatras” as culturas e civilizações africanas. Logo depois, lançaram sobre eles suas armas de dominação e destruição.
O cristianismo, através da interpretação bíblica feita pelos brancos, virou uma arma ideológica para assegurar a suposta supremacia racial branca. Foi uma poderosa arma utilizada para lavagem cerebral dos nossos antepassados, fazendo com que eles perdessem inteiramente o senso de identidade e contato com eles mesmos.
Enquanto instituição religiosa, o cristianismo estava intimamente ligado a determinados traços culturais de uma determinada sociedade, no caso em tela, a européia. O que tornou, em certo sentido, parte integrante dos padrões de comportamento desses indivíduos. Assim, devido a essa forte identificação, as pessoas não-brancas que com ela tiveram contato foram cerceadas pelos limites dos seus ensinamentos. Ensinamentos esses que sobrevivem até hoje.
Com a imposição e difusão do cristianismo, nós negros tivemos que odiar a nossa origem, a nossa história e a nossa cultura. Tivemos que jogar fora nossas roupas, hábitos e crenças porque eram todos considerados “pagãos” pelos brancos.
São estas, portanto, as duas provocações iniciais que gostaria de fazer a vocês. Isto porque a análise conjuntural do pan-africanismo e cristianismo exige, para este momento, a fixação de determinados acontecimentos históricos que viabilizem a compreensão da necessidade de transformação social e política dos negros que esses movimentos proporcionaram.

PRETAS POESIAS

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