sábado, 3 de novembro de 2007

Nat Turner o Profeta-Guerreiro: Líder da Insurreição Escrava na Virginia.


Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. E-mail: kefingfoluke@hotmail.com



No mês de novembro através do nosso blogger, com média 51 visitas diárias, o CNNC/Ba (Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos da Bahia) homenageará diversos homens e mulheres que lutaram pela liberdade do povo negro. A nossa concepção panafricanista é que todos e todas que lutaram na África e na diáspora são exemplos de resistência na história do nosso povo independente onde estejamos. É o Novembro Negro onde os nossos leitores (as) conhecerão a biografia de eminentes defensores (as) do passado e do presente que dedicaram e dedicam a sua vida no combate ao racismo e procuram caminhos reais de liberdade.

O nosso primeiro homenageado será o profeta batista Nat, que teve o sobrenome do escravizador Benjamin Turner. Nat Turner nasceu em 02 de outubro de 1800 em Southampton County- Virginia –USA, Sua mãe e avó haviam sido seqüestradas da África e escravizadas, e possuíam um profundo ódio a escravidão.
Nat Turner era apenas um garoto quando as pessoas o ouviram descrever acontecimentos que haviam ocorrido antes do seu nascimento e foi considerado um profeta e tornou - se profundamente religioso. Nat aprendeu ler e escrever ainda na tenra idade, considerado extremamente inteligente, tendo recebido da sua mãe uma revelação sobre a sua função na comunidade, especialmente pelas marcas na cabeça e no peito que possuía. A sua mãe o ensinou a combater a escravidão, ai vemos a função da família negra como mentoras da liberdade. O exemplo da avó e mãe de Nat nos ensina que no processo educativo familiar primeiro é necessário liberta-se da escravidão mental a qual fomos submetidos. Em toda a escravidão tentaram programar e introjetar pela educação deformada e a religião sem libertação o medo, influenciando o subconsciente da população escravizada que não deveria resistir e hoje continuam com os meios de comunicação na diáspora, especialmente nos evangélicos brasileiros, mas, a cada dia irmãs e irmãos de diversas denominações e muitos pastores e pastoras já não aceitam mais o racismo e estão se organizando em todo o país.
Nat estava a todo o momento lendo histórias da Bíblia e era um fervoroso crente sempre orando e jejuando. Acreditava no batismo do Espírito Santo e que poderia ter um relacionamento direto com Deus e tinha o dom das visões, comum à comunidade preta na África e na diáspora, independente de credo religioso, realidade não entendida pelo racionalismo ocidental que tenta explicar o inexplicável e coloca Deus como inacessível a humanidade. Deus está e sempre esteve e estará presente direcionando os caminhos do povo preto.
Já na idade adulta tornou-se um pregador batista e acreditava que Deus o chamou para libertar o seu povo da escravidão. No seu relacionamento direto com Deus por meio de orações e jejuns compreendeu que deveria combater a opressão do seu povo a todo o custo e entendeu que a escravidão era obra do Satanás e os escravizadores não estavam a serviço do Eterno.
Nas suas pregações admoestou um branco chamado Etheldred T. Brantley que ficou doente e foi curado após nove dias pelas orações de Nat. Teve como auxiliares diretos 04 escravizados também batistas: Henry, Hark, Nelson e Sam.
Foram três visões que marcaram profundamente a sua vida. A primeira ocorreu em 1821 após fugir para a floresta e passar trinta dias; a segunda visão ocorreu em 1825 quando viu luzes no céu e gotas de sangue como orvalho caindo na plantação do milho e em 12 de maio de 1828 teve a terceira visão quando o Espírito Santo o mandou lutar contra Satanás que escravizava o seu povo e um sinal do céu seria dado para começar a rebelião. Em 1831, foi vendido a Joseph Travis e em fevereiro do mesmo ano um eclipse do Sol foi entendido por Turner como um sinal divino para que iniciasse a revolta e com mais 04 escravizados planejaram o ataque para 04 de julho dia da independência dos Usa, mas caiu doente e o ataque teve que ser adiado. Em 21 de agosto, ele e mais sete outros escravos mataram Joseph Travis e sua família e deram início a uma rebelião que resultou em 55 brancos mortos.
Porém, ao contrário da insurreição maciça de escravizados que esperava desencadear, somente 75 juntaram-se a ele. A resposta dos escravizadores brancos, no entanto, foi extrema: 3000 homens da guarda estadual foram enviados para abafar a insurreição, o que rapidamente conseguiram. Seguiu-se o massacre de quase 200 escravizados e até na Carolina do Norte bem distante da Virginia posteriormente houve execuções dos que não haviam participado da insurreição pela liberdade. A rebelião terminou quando as milícias começaram a perseguir Nat e os outros escravizados, sendo capturados quinze guerreiros e imediatamente enforcados. Nat escapou e escondeu-se por cerca de seis semanas até que foi preso em 05 de novembro e executado em 11 de novembro de 1831, sendo decapitado e esquartejado e alguns brancos que por sinal eram cristãos guardaram partes do seu corpo como recordação.
Livros e filmes foram feitos sobre Nat Turner: “As Confissões de Nat Turner”, um romance de William Styron ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1968. Este livro teve grande aclamação crítica e popular, mas vários criticos da comunidade preta o considerou racista.
Nat Turner: A Troublesome Property, um filme de Charles Burnett, foi lançado em 2003.
Sua "confissão", ditada para Thomas R. Gray, foi tomada quando estava detido na prisão: http://www.melanet.com/nat/nat.html
Nat Turner deixou-nos uma lição de luta contra a escravidão e a sua vida de fé demonstrou que a oração e jejum lhe deram forças e coragem para enfrentar os escravizadores. Sabia através da leitura bíblica que Deus não aceita a discriminação e a opressão do homem pelo homem e no dia 11 de novembro contemos para as nossas crianças a história do homem de Deus, o pregador batista Nat Turner que como Zumbi dos Palmares lutou pela liberdade.

Um comentário:

Charles Lewis Stone disse...

Nesse mês de novembro vale muito apena lembrar todos aqueles negros que lutaram e morreram pela liberdade.

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